Vítima de tráfico humano para trabalho infantil, ativista luta para combater crime: 'Não é normal uma criança pedindo dinheiro'

Fabio Pereira Dos Santos
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Neste domingo (30) foi comemorado o Dia Mundial de Combate ao Tráfico de Pessoas. Ao g1, Swany contou de como saiu das ruas, foi para um lar adotivo e se envolveu com o ativismo. Ativista Swany Zebonini durante ação no Aeroporto de Guarulhos para ajudar afegãos Arquivo Pessoal "Sempre que eu vejo uma criança pedindo dinheiro no semáforo, sendo usada em trem ou metrô, eu lembro da minha história. E fico ainda mais assustada ao saber que muitos são alugados para fazer isso, ou seja, vítimas de tráfico humano. Me sinto de mãos atadas porque se tornou cultural. Parece que se tornou comum na paisagem e isso é muito crítico. Essa naturalização é muito perigosa. Não podemos achar normal uma criança pedindo dinheiro. Por isso, quero lutar contra isso". O relato é da ativista Swany Zebonini, de 30 anos, que tem como principal objetivo lutar contra o tráfico humano para trabalho infantil em São Paulo, onde mora, e em outros municípios brasileiros. E essa luta tem um valor ainda maior, já que ela mesma foi vítima de tráfico humano para trabalho infantil quando tinha menos de 2 anos em Carapicuíba, Grande SP. "É uma forma de tentar ressignificar e tentar fazer a diferença. O meu papel é esse, ajudar na causa. Eu não tenho vontade de abrir ONG. Eu quero ajudar como voluntária porque eu entendo que é uma causa que faz sentido pelo que vivi. Por isso, o meu foco são crianças e mulheres", ressalta. Neste domingo (30) foi comemorado o Dia Mundial de Combate ao Tráfico de Pessoas. Ao g1, Swany contou de como saiu das ruas, foi para um lar adotivo e se envolveu com o ativismo (veja abaixo). Atualmente, ela faz parte da Comissão Municipal de Enfrentamento ao Trabalho Infantil da cidade de São Paulo, da Comissão Estadual de Enfrentamento ao Trabalho Infantil nos Transportes Públicos do Estado de SP e do Grupo Mulheres do Brasil - Núcleo Barueri, no comitê de enfrentamento ao tráfico humano. 'Eu não teria perspectiva de vida' Swany Zebonini, de 30 anos Arquivo Pessoal Swany conta que nasceu em Carapicuíba. Ainda bebê, os pais biológicos foram denunciados duas vezes por vizinhos por abandoná-la na casa com os irmãos. "Eu era muito pequena, muito mesmo. Acredito que 1 ano. Os vizinhos denunciaram para o Conselho Tutelar por abandono de incapaz e meus pais perderam a guarda. Fui parar em um abrigo e depois para uma casa de acolhimento com uma família". Contudo, os pais conseguiram recorrer e conseguiram a guarda de volta. Mas, segundo Swany, o objetivo era para que ela fosse usada para que ambos conseguissem dinheiro. "Foi nesse retorno que eu fui usada para trabalho infantil com meus irmãos. Eu era usada para vender produtos e pedir dinheiro nos semáforos de São Paulo. E todo dinheiro que a minha genitora conseguia, era usada para comprar droga, bebida, cigarro. Essas informações consegui quando comecei a buscar detalhes da minha adoção e história. Eu não teria perspectiva de vida na família biológica". "E eu só fui perceber que eu tinha sido vítima de tráfico humano para trabalho infantil quando passei a estudar mais sobre o tema e percebi que se enquadrava na ampliação da lei de tráfico humano, que passou a incluir trabalho análogo à escravidão, trabalho infantil, adoção ilegal e não só exploração sexual, como era antes. Minha genitora recuperou minha guarda justamente para me usar, me aliciava", afirma. Leia também PF assina cooperação para combate no Brasil ao tráfico de pessoas; estrutura funcionará no RJ Indígenas vítimas de tráfico humano no AM eram obrigadas a aderir ao islamismo ‘Trabalho forçado, infantil, casamentos precoces, tráfico humano. Isso é escravidão moderna’, diz influenciador digital de Zanzibar A lei citada por Swany é a Lei n. 13.344/2016, que revogou os artigos 231 e 231-A do CP, introduzindo o artigo 149-A a fim de adequar a legislação interna aos protocolos internacionais, em especial ao Protocolo de Palermo. Desde então, o crime foi ampliado para outras finalidades como trabalhos análogos à escravidão e adoção ilegal. (veja mais abaixo). Ainda conforme a ativista, ela só foi retirada novamente da mãe biológica quando um juiz da Vara da Infância e Juventude de São Paulo a viu no semáforo. "Ele estava passando no farol e por uma grande coincidência ele já tinha cuidado do meu caso. Então, minha mãe perdeu minha guarda e foi aí que fui para o abrigo Santa Terezinha. Nunca mais tive contato com minha família biológica". Uma nova família Segundo a ativista, ela foi adotada por uma família que, inicialmente, não tinha interesse em adotar criança no abrigo. "A minha irmã adotiva do meio, na época com 14 anos, passou a ir ao abrigo com uma amiga e levava fralda, roupa. Minha mãe desconfiou se elas iam mesmo no abrigo e foi até lá. Viu que era verdade. Mas foi aí que ela me viu e se sensibilizou". "Ela tinha duas filhas, uma de 14 e outra de 18, na época, nem pensava em adotar. Mas disse que sentiu que eu tinha que fazer parte da família. Ela passou, então, a frequentar sempre o abrigo para levar roupa. Meu pai foi depois e disse que tudo bem, que eu poderia ser adotada. E aí, eles conseguiram minha guarda definitiva". O nome Swany veio de Swan, que em inglês significa cisne. "Meu primeiro nome era Suelen. O juiz que cuidou do meu caso falou para mudar o meu nome, mas para manter o prefixo 'Su'. Aí, meu pai quem escolheu Swany, que seria algo para lembrar que eu tive uma transformação e me tornei um cisne". Luta contra o tráfico humano Swany Zebonini foi vítima de trabalho infantil em São Paulo Arquivo Pessoal Aos poucos, Swany foi descobrindo sua história e há cinco anos foi quando decidiu que era preciso ser uma voz na luta contra o crime. "Meus pais iam me contando conforme ia crescendo e conforme minha curiosidade. Eu vejo que Deus sempre cercou muito, toda essa história. Tudo teve a mão de Deus. E faz cinco anos que eu vesti a camisa para enfrentar o tráfico humano. Sempre foi uma pauta que cercou minha vida. Foi aí que fui atrás de ONGs para realmente ir atrás de ajudar". "Há 3 anos estou no Grupo Mulheres do Brasil e criamos a frente do tráfico humano. Agora a gente está com projetos bem legais com a CUFA. Finalmente a gente conseguiu entrar nas comunidades, com as periferias. Meu sonho é que todos os 5 mil municípios do Brasil tenham contato com a temática do tráfico humano. Eu quero literalmente alcançar o Brasil todo. Ajudar crianças e mulheres". Em agosto de 2022, Swany passou a acompanhar os afegãos acampados no Aeroporto de Guarulhos, que começaram a entrar no país quando as tropas americanas encerraram os 20 anos de intervenção militar no Afeganistão e o grupo extremista Talibã voltou ao poder. Ela chegou a dormir no aeroporto para acompanhar os imigrantes e ajudou na criação do Coletivo Frente Afegã. “[São] pessoas vulneráveis, que têm a barreira linguística, que não falam o idioma e que precisam desesperadamente encontrar um lugar. Então, quando você vem com a proposta de uma casa, é natural que um pai de família aceite essa proposta, por mais que tenha algum receio. Então, a gente precisa estar atenta, sim, porque essa situação que aconteceu estava deixando todas as pessoas vulneráveis ao aliciamento, ao tráfico de pessoas”, ressalta. Swany Zebonini na Comissão Estadual de Enfrentamento ao Trabalho Infantil nos Transportes Públicos do Estado de SP Arquivo Pessoal Conforme Swany, a própria sociedade precisa se conscientizar sobre como ajudar vítimas. "O tráfico humano é pouco entendido, compreendido. Como tem as modalidades, as pessoas se limitam só para exploração sexual. É um grande universo. E quando você denuncia e não acontece nada, você desanima. Mas não podemos". "É precisa ter investimento maior em pesquisa, em dados, capacitar o pessoal da segurança pública para registrar crimes como tráfico humano, capacitar pessoal da saúde. Quando você dá o peso do crime, você enfraquece o crime". Lei n. 13.344/2016 A Lei n. 13.344/2016 revogou os artigos 231 e 231-A do CP, introduzindo o artigo 149-A a fim de adequar a legislação interna referente ao tráfico de pessoas aos protocolos internacionais, em especial ao Protocolo de Palermo. Desde então, a construção legislativa passou a ser fundamentada nos pilares da prevenção e repressão ao crime. A pena é de 4 a 8 anos de reclusão, e multa. Veja: Art. 149-A: Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: I – remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II – submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; III – submetê-la a qualquer tipo de servidão; IV – adoção ilegal; V – exploração sexual.

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