Registros das ocorrências na Polícia Civil indicam que apenas quatro policiais de uma equipe usavam o equipamento no uniforme. Todas as ações com morte envolveram equipes diferentes. Único caso gravado ocorreu no dia 30 de julho e terminou com a morte de Rogério de Andrade de Jesus, no Guarujá. Até esta quinta, 16 pessoas foram mortas. Governo de SP nega que tenha havido excesso da polícia na operação no Guarujá
Jornal Nacional/ Reprodução
Boletins de ocorrência da Polícia Civil de São Paulo indicam que em apenas uma de 11 equipes da Polícia Militar envolvidas em mortes durante a Operação Escudo, na Baixada Santista, usava câmeras acopladas nos uniformes dos policiais.
Levantamento do g1 feito com base em 11 boletins de ocorrências (BOs), das 16 mortes na Baixada Santista desde sexta-feira (28), mostra que apenas um delegado registrou no documento oficial que quatro policiais de uma equipe usavam o equipamento.
O caso aconteceu às 7h40 do domingo (30), na Avenida Brasil, no Guarujá, e terminou com a morte de Rogério Andrade de Jesus, 50 anos (leia mais abaixo).
O Ministério Público de São Paulo já solicitou acesso às imagens. De acordo com o secretário da Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), Guilherme Derrite, as gravações estarão à disposição do MP.
"Assim que o Poder Judiciário requisitar as imagens, tenho certeza de que elas estarão à disposição do Poder Judiciário e, eventualmente, do Ministério Público. Até porque isso pode fazer parte do processo-crime. Toda ocorrência que resulta em confronto, eventualmente em lesão corporal e morte em decorrência do enfrentamento, essas imagens podem ser utilizadas durante o processo. Basta o Ministério Público ou Poder Judiciário, que são partícipes desse processo, requisitarem as imagens", diz o secretário.
Os boletins das outras dez mortes na Polícia Civil não apresentam no histórico se os PMs envolvidos nas ações com mortes de civis usavam ou não câmeras em seus uniformes.
A Operação Escudo na Baixada Santista foi planejada depois que o policial da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) Patrick Bastos Reis foi morto no Guarujá, na quinta-feira (27).
Reis participava, com outros agentes do 1º Batalhão de Rota, que fica na capital paulista, de uma operação na Baixada Santista em resposta à morte de dois PMs aposentados.
O g1 procurou a Secretaria da Segurança Pública e aguarda posicionamento.
Única ação com câmeras
Detalhe da câmera que será usada por policia militares de São Paulo
Divulgação/Polícia Militar
Os quatro PMs envolvidos na ação que terminou na morte de Rogério usavam câmeras em seus uniformes, informação que consta ao final dos depoimentos um concedidos ao delegado Otaviano Toshiaki Uwada.
De acordo com a versão apresentada pelos PMs na delegacia do Guarujá, quatro agentes faziam patrulhamento na região quando a população passou a apontar para um morro. Eles decidiram descer da viatura para verificar o que acontecia.
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Os policiais relataram que as pessoas apontavam para uma casa, mas sem dizer quem morava nela. O local estava entreaberto, segundo os depoimentos dos policiais, e "pela porta já viu um indivíduo armado com uma pistola".
A versão oficial indica que os PMs deram voz para a pessoa largar a arma, o que não aconteceu. O homem, identificado como Rogério de Andrade de Jesus, de 50 anos, teria apontado uma pistola 380 na direção da equipe.
"Ele [suspeito] não largou e apontou [a arma] para o declarante [como um dos PMs é chamado no histórico da ocorrência], razão pela qual efetuou um disparo com seu Fuzil 762", diz o BO do caso.
Foi dado um único tiro na ocorrência, segundo os PMs. O relato aponta que foi chamado socorro do Samu, mas que o atendimento médico demorou 50 minutos para chegar "pois é área de comunidade". O documento não detalha se Rogério morreu no local ou se foi socorrido a alguma unidade de saúde, onde teria sido constatada sua morte.
Um colete à prova de balas, a pistola 380 apontada como sendo de Rogério e um tijolo com 2,6 kg de maconha foram apreendidos. Participaram da ação Eduardo de Freitas Araújo, Augusto Vinícius Santos de Oliveira, Vitor Nigro Vendetti Pereira e José Pedro Ferraz Rodrigues Júnior.
Uso de câmeras e aumento nas mortes
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Desde agosto de 2020, o governo de São Paulo passou a incluir em parte da tropa da PM as COPs (Câmeras Operacionais Portáteis, no nome técnico), por meio do Programa Olho Vivo. O equipamento teve como retorno letalidade zero em parte dos batalhões da PM e o menor número de mortos por policiais ao longo de 2022.
Desde fevereiro deste ano, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) congelou o total de 10.125 câmeras disponíveis para uso dos PMs. Em nota ao g1, a gestão disse que realiza um estudo para ampliar as funcionalidades do equipamento.
Durante a gestão Tarcísio, as mortes provocadas por PMs em serviço aumentaram 24% de janeiro a julho quando comparado ao ano passado: foram 185 mortos, contra 149 nos mesmos meses de 2022.
O mês de julho foi o que registrou maior número de vítimas do ano até agora: 33. Dados do Ministério Público indicam que este ano registra a primeira alta em mortes causada por policiais no 1º semestre desde 2021.
Com 16 mortos até esta quinta-feira (3), a operação para prender os assassinos do PM de Rota Reis na Baixada Santista já é a mais letal de SP desde os 'crimes de maio' de 2006, quando forças de segurança mataram ao menos 108 pessoas, segundo a Defensoria Pública do estado.
A ação deste ano é a terceira mais letal do estado, ficando atrás do "Massacre do Carandiru", onde 77 detentos foram mortos por policiais militares em 1992 - à época, 111 presos morreram, parte deles mortas pelos próprios detentos, segundo o estado. E superou ainda a "Operação Castelinho" da Polícia Militar, que em 2002, deixou 12 mortos.
A Operação Escudo, na Baixada Santista, começou em 28 de julho e a previsão é a de que continue pelo menos até 28 de agosto.
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