Em carta, irmão de belga morto há um ano no Rio lamenta liberdade do cônsul alemão suspeito e relata saudades: 'Grande vazio'

Fabio Pereira Dos Santos
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Corpo ainda está no IML e investigação pouco avançou; suspeito, cônsul alemão suspeito do crime deixou o país. Walter Biot foi encontrado morto em seu apartamento em Ipanema. Necropsia atestou que a causa da morte foi uma hemorragia intracraniana. Irmão de Walter Biot, Pascal questiona libertação do suspeito da morte Reprodução Um ano após a morte no Rio do belga Walter Biot, seu irmão, Pascal, escreveu uma carta lamentando a liberdade do suspeito, o cônsul da Alemanha, Uwe Herbert Hahn. Ele também relatou como "um grande vazio" o sentimento de ausência do irmão. "Com apenas 52 anos você partiu sem aviso e de repente o silêncio se instalou, um grande vazio. Mas enquanto eu pensar em você, você não morrerá jamais", escreveu Pascal. Ele questiona por que uma pessoa suspeita de assassinar outra pode viver e circular livremente. “Por que uma juíza libera o suspeito sem proibi-lo de sair do Brasil? Por que o passaporte não foi confiscado? Por que levar tanto tempo para fazer um exame de contraprova?”. Um ano após morte de belga, corpo ainda está no IML e investigação pouco avançou; suspeito, cônsul alemão deixou o país Um ano e muitas perguntas sem resposta A morte do belga Walter Biot completa 1 ano neste sábado (5). Ele vivia com o marido, o cônsul da Alemanha, Uwe Herbert Hahn. Os dois moravam numa cobertura em Ipanema, na Zona Sul do Rio, onde Biot morreu. Mesmo com evidências que apontam que o alemão é o assassino, as investigações pouco avançaram. O cônsul já saiu do país e o corpo do belga ainda nem foi entregue à própria família. O perito legista Reginaldo Franklin diz que nunca viu um corpo ficar tanto tempo no Instituto Médico-Legal (IML). Há 1 ano, a família na Bélgica espera por uma despedida. Em uma troca de mensagens, o irmão de Walter Biot afirma que não tem nenhuma informação da Justiça brasileira, nem das autoridades da Bélgica e da Alemanha. Ele disse que não recebeu sequer condolências do consulado alemão. A longa espera é mais um capítulo de uma história ainda mal contada e que parece longe de ser solucionada. O corpo de Biot foi encontrado com mais de 30 lesões. Na época, a necropsia atestou que a causa da morte do belga foi uma hemorragia intracraniana. Sinais de espancamento Walter Henri Maximillen Biot e o cônsul da Alemanha Uwe Herbert Hahn eram casados há 23 anos Reprodução O exame, conduzido pelo perito legista Reginaldo Franklin, com mais de 20 anos de experiência e vice-diretor do IML, leva a crer que o belga tinha sido vítima de espancamento. “O corpo chega aqui com múltiplos vestígios da série pontusa com idades diferentes e com formas diferentes. (...) O que pode nos deixar tecnicamente claro que se trata de lesões com aspectos diferentes e tempos diferentes.” Em outras palavras, Biot teria morrido após uma sucessão de atos violentos. O laudo do IML derrubava a versão contada pelo principal suspeito da morte de Biot: o marido dele há 23 anos, o cônsul alemão Uwe Herbert Hahn. Marido fala em 'mal súbito' A história contada por Uwe à polícia era que no dia 5 de agosto de 2022 o marido sofreu um mal súbito no apartamento onde eles moravam em Ipanema, caiu, bateu a cabeça e morreu. Uwe disse que o marido vinha fazendo uso de medicamentos e bebidas alcóolicas. Com o resultado da necropsia e a perícia no apartamento do casal, onde foram encontradas várias manchas de sangue espalhadas no sofá e travesseiros, o cônsul alemão foi preso em flagrante, acusado da morte do marido. Uwe não soube explicar à polícia as diversas lesões encontradas no corpo da vítima decorrentes de ação contundente. O diplomata passou 19 dias preso e foi solto no dia 26 de agosto. Cônsul Uwe Herbert Hahn é tranferido para presídio na Zona Norte do Rio Betinho Casas Novas / TV Globo A desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, da 2ª Câmara Criminal mandou soltar o cônsul alegando que o Ministério Público (MPRJ) teria perdido o prazo para oferecer a denúncia. Só que a juíza não determinou nenhuma medida restritiva, como apreender o passaporte do cônsul. E dois dias depois de sair da cadeia, Uwe embarcou num avião com destino à Alemanha. A denúncia por homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, com emprego de meio cruel e de forma a dificultar a defesa da vítima —só saiu dia 29 de agosto, quando o cônsul já estava no país natal. A promotora Bianca Chagas de Macêdo Gonçalves apresentou provas de que não perdeu nenhum prazo. Uwe Herbert Hahn virou réu e é considerado foragido. Por determinação do juiz Gustavo Kalil, o nome dele foi incluído na lista de procurados da Interpol. Em novembro do ano passado, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil recebeu um pedido de cooperação jurídica internacional para o fornecimento de informações da investigação, do Ministério Público alemão. O órgão afirmou que também estava investigando o caso e que se for comprovado o crime de homicídio, o cônsul será punido com prisão perpétua, como prevê o Código Penal alemão. O Ministério Público da Bélgica, país de origem de Biot, também solicitou à Justiça brasileira o envio de informações sobre o processo. De lá pra cá, foram inúmeras trocas de mensagens, ofícios e cartas entre Brasil e Alemanha. “Não se sabe quanto tempo vai durar essa investigação e também não sei da isenção. Sabemos que a investigação no Brasil foi conduzida de forma criteriosa, não havendo qualquer dúvida sobre a causa morte, que foi ação contundente, traumatismo craniano decorrente de ação contundente. Não temos dúvida da autoria e do contexto de violência doméstica a qual essa vítima estava sendo submetida”, diz a delegada-adjunta Camila Lourenço. O Ministério Público da Alemanha solicitou também à Justiça brasileira outra perícia no apartamento e uma nova necrópsia no corpo do belga. E pediu que o corpo fosse mantido no IML. O exame complementar, com a participação de dois médicos legistas alemães e do procurador de Justiça da Alemanha, aconteceu no dia 23 de maio, quase 10 meses depois da morte. E o que não se sabe explicar é: qual o motivo para não liberar o corpo? “A perícia que é realizada no cadáver 10 meses depois não é a mesma. O corpo perece e prejudica nas constatações e na produção das provas.” E mais de dois meses depois do novo exame, o corpo de Biot continua no IML. “Durante esse período recebi insistentes pedidos da família do belga para que o corpo fosse restituído e a família pudesse dar um enterro digno”, diz a delegada. Saiba como cônsul conseguiu deixar o Brasil Imagens mostram os últimos momentos do marido do cônsul alemão vivo Carta para o irmão Sem poder se despedir, Pascal, irmão de Biot, escreveu uma carta ao irmão que dizia o seguinte: "Com apenas 52 anos você partiu sem aviso e de repente o silêncio se instalou, um grande vazio. Mas enquanto eu pensar em você, você não morrerá jamais.” Pascal pergunta por que uma pessoa suspeita de assassinar outra pode viver e circular livremente. “Por que uma juíza libera o suspeito sem proibi-lo de sair do Brasil? Por que o passaporte não foi confiscado? Por que levar tanto tempo para fazer um exame de contraprova?” Uma sucessão de perguntas, e nenhuma resposta até agora. O RJ2 enviou mensagens para o consulado da Alemanha, mas não teve retorno. A produção também perguntou ao Tribunal de Justiça sobre a liberação do corpo, mas não houve resposta.

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