Segundo Marcelo Drummond, processo exige cuidado para preservação das obras. Dramaturgo morreu no dia 6 de julho, aos 86 anos, em decorrência dos ferimentos causados pelo incêndio que atingiu seu apartamento na Zona Sul de São Paulo. Marcelo Drummond e Zé Celso; imagem ao lado mostra quarto de Zé Celso atingido por incêndio
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Uma empresa especializada começa nesta segunda-feira (7) a embalar e limpar o que foi conservado da obra dramaturgo José Celso Martinez Corrêa no apartamento onde ele vivia, no Paraíso, na Zona Sul de São Paulo, após o imóvel ser atingido por um incêndio no início do mês passado.
Zé Celso teve mais de 50% do corpo queimado e morreu no dia 6 de julho.
Viúvo do dramaturgo, o ator Marcelo Drummond teve a entrada liberada ao imóvel na semana passada e avaliou que parte do acervo está com fuligem, queimada ou molhada. O material será levado para uma casa de produção do grupo.
"Não pode ser uma mudança comum, é fácil desmanchar. E agora que eu pude entrar e que eu vi, assim, com detalhe, que eu entrei em todos os cômodos, eu vi a dificuldade, que não é uma coisa normal, que uma pessoa vai limpar. Tem um lado restauração", disse ao g1.
Segundo a conclusão do perito Fábio André Massa, do Instituto de Criminalística, não foi possível identificar a causa, mas análises "levaram o relator a admitir como viável a possibilidade" de o incêndio ter sido iniciado pelo aquecedor em contato com tecido, espuma ou madeira.
Na noite do incêndio, a cidade de São Paulo registrou 9,8°C na madrugada, uma das mais frias de 2023.
Zé Celso
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"Eu ainda não mexi em nada. O que eu estou por enquanto vendo são as minhas coisas do meu quarto, que não foi atingido por nenhum incêndio."
Ele atualmente está residindo na casa de amiga que tinha colocado o imóvel à venda e permanecia vazio. Disse que chegou a procurar apartamento perto do Bixiga, nas proximidades do teatro, mas não encontrou.
"Ela [amiga] está morando em outro lugar, então me emprestou essa casa. Tem quase nada, mas tem cozinha, essas coisas básicas estão montadas", comenta.
Zé Celso e Drummond moravam com outros dois amigos. Os apartamentos eram interligados por uma porta. Ricardo Bittencourt e Victor Rosa chegaram a ser hospitalizados por inalar fumaça, mas não sofreram ferimentos graves. O cachorro de estimação de Zé Celso, Nagô, também não foi atingido.
De acordo com Marcelo Drummond, a unidade de Zé era alugada, passará por reforma e será entregue aos proprietários.
Marcelo e Zé Celso no dia do casamento
Reprodução/Instagram Marcelo Drummond
'Silhueta na fumaça'
Ao g1, Victor Rosa, anteriormente, lembrou quando viu Zé Celso antes de dormir. Segundo ele, o dramaturgo sentia frio naquela noite, e tinha o hábito de colocar o aquecedor perto da cama. A suspeita é que o aparelho tenha causado as chamas.
"Quando eu cheguei o Zé já estava no quarto com a porta entreaberta, mas já se preparando para dormir. Acho que nem dei boa noite, porque ele já estava quase deitado e fui dormir. Estava muito cansado. Acordei já com o Zé gritando por socorro."
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Nas primeiras horas da manhã, Victor correu para o quarto de Zé Celso. Já havia grande quantidade de fumaça e o dramaturgo machucado tentava deixar o cômodo.
"Eu não enxergava nada, só a silhueta na fumaça, tentando sair [do cômodo] com andador. Chamei os meninos que dormiam nos outros quartos e tentei com cuidado puxar o Zé para sala. Não sei como eu queimei as minhas mãos, se foi nele ou se toquei em algo", afirmou Victor.
Ele continua: "[Zé Celso] Estava consciente todo o momento e com queimaduras pelo corpo. Tirou o andador e a gente foi pro chão. Nessa hora, Marcelo também chegou, começou a abrir as janelas, abrir porta, abrir tudo. Comecei arrastar Zé pelo chão. Estava pesado e estava difícil, porque eu estava com as mãos queimadas, doendo. Queria levar para longe do fogo".
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Um vizinho conseguiu ajudar a retirar Zé e todos ficaram no hall. Victor voltou ao apartamento ao menos outras duas vezes para tentar salvar Nagô. Com um extintor em mãos e chamando pelo animal, só escutou o que define como latidos.
"Deve ter ficado com muito medo e se escondido no quarto do Marcelo, talvez embaixo da mesa. Não consegui chamar ele e saí do apartamento. Entrei de novo uma vez para tentar apagar um pouco do fogo."
Com a chegada dos bombeiros, Zé foi levado ao hospital em estado grave e os outros três moradores não tinham informações sobre Nagô.
"Eu até caí na rua, assim que fiquei chorando, muito preocupado com Nagô. Abaixou minimamente a adrenalina e eu comecei a sentir minhas mãos. Ficamos nós três numa ambulância recebendo oxigênio."
Nagô salvo
Nagô era o cachorro de estimação de Zé Celso
Arquivo pessoal
Depois se serem ouvidos pela polícia e receberem cuidados, chegou a informação de que Nagô estava em um corredor do prédio, e sem ferimentos.
"Quando a moça da ambulância fechou a porta, porque a gente ia para o hospital, estavam trazendo o Nagô. Nós três pedimos para abrir a porta e deixar a gente ver o Nagô. Entrou na ambulância, pulou em mim, pulou no Ricardo, pulou no Marcelo, começou a lamber todo mundo. Ficou um tempo embaixo da maca que tem na ambulância, o acalmamos e ficou com a família do Zé."
Os três foram rever o quarto sobrevivente apenas no velório de Zé Celso. Nagô foi levado pela família na despedida no teatro.
O incêndio
Segundo testemunhas no registro do boletim de ocorrência, alguma peça de roupa deve ter atingido o aquecedor. Situação parecida ocorreu há cerca de dois ou três anos, mas na época o fogo foi contido e não houve danos.
FOTOS: Parte de apartamento de Zé Celso foi atingida pelas chamas
Zé Celso teve queimaduras nos membros superiores, inferiores e no rosto. De acordo com o boletim de ocorrência, o diretor morava no apartamento que pegou fogo, e na unidade ao lado, vive o marido Marcelo Drummond. Os apartamentos são autônomos, mas conectados por uma porta.
Fotos dos cômodos mostram que partes das paredes se soltaram e o quarto ficou praticamente todo destruído. Um ventilador no teto também derreteu.
Amigo acordou com fumaça
Ricardo Bittencourt também chegou a tentar resgatar a vítima.
Os dois, que se conheciam havia cerca de 35 anos, conversaram sobre a publicação de parte das obras e foram dormir naquela madrugada. Bittencourt recorda que Zé Celso estava alegre. Segundo ele, a madrugada era fria e o aquecedor no quarto de Zé ficava afastado de objetos.
“Depois da conversa da publicação da obra pela ABL, ele disse que ia ligar o aquecedor. Não sei se teve curto. Acordei achando que estavam queimando lixo na rua. Eu não decodifiquei, e na sala achei o Zé deitado, muito machucado e o Victor Rosa, o ator, puxando ele. Aí que caiu a ficha e corremos pegar extintor e inalamos fumaça. O Zé estava consciente.”
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